domingo, 29 de novembro de 2015

A casa de Dali

Propuseram me construir uma casa para alguém que não eu, um ser sem propósito, ou com demasiado.
Inconscientemente consciente de uma realidade própria, diferente do que estamos habituados, se é que estamos habituados a alguma. Um ser distante de sentido e forma, presente apenas naqueles sonhos irreais e imaginários, despegados da vida mundana em que nos sustemos, recheados de mistérios e verdades que nos ultrapassa.
Num tempo interregno, desconcertante no sentido como reconforta a alma e simultaneamente a corrompe, num ciclo inevitável de conclusões ilusórias, pressupostos errados e sensações desviantes. Chamam-lhe pelo nome mas poucos o sabem, como eu, desatentos ao que realmente importa ou demasiados focados no inevitável perder que a vida lhe implica.
Tempo onde a chuva, o vento, e o sol ainda não foram inventados, numa dicotomia constante entre o que a arquitectura é e o que deveria ser.
Sentaria-me aqui numa calma manha, uma daquelas manhas manhas onde o tempo avança lentamente, onde o sol segue o seu caminho silencioso, não fosse ele brilhar e ninguém dava por ele. Aqui ficaria a pensar nesse mesmo tempo, a ver se chega o tempo. O tempo de onde se deixa de ver chegar o tempo mas o tempo chega sem se ver chegar.
Na procura de uma essência própria, a mais verdadeira e a mais distante de nos, a única desprovida de consciência, a única verdadeiramente falsa. Assim resta nos assumir a mentira.
"Viver aqui seria como acordar na Rússia e só saber falar espanhol, ter as pernas viradas ao contrario e abrir portas a cabeçada."

domingo, 22 de novembro de 2015

isto sim, é semântica.

na generalidade do tempo somos um grupo de gente que não sabe que "prazer" é um verbo. Ignorado e limitado a coisa rara de substantivo abstrato, o prazer mandou-nos foder a todos. O que não anda conjugado na boca do povo raramente lhe anda na alma.



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

“I’m not brave any more darling. I’m all broken. They’ve broken me.” 

Ernest HemingwayA Farewell to Arms

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

comprou uma toranja. torradas e uma toranja para o pequeno-almoço. torradas, porque era o que tinha. a toranja, porque o que temos nunca é suficiente.
gabava-se de nunca se ter perdido. era uma questão de apenas escolher o destino depois da chegada.
os escritores têm sido aqueles que falam da preguiça sem nunca lhe chamar pelo nome.

o tamanho importa

a razão era simples: um problema de escala, tinha a cama maior que o coração.