segunda-feira, 30 de setembro de 2013

erro temporal II

talvez se o marques de pombal tivesse morto todos os távoras os auditórios da escola fossem mais confortáveis

Verde

Rompeu pela porta ao fundo do corredor, ofegante. Começou a descer as escadas do auditório, saltando alguns degraus. Olhou para trás e não viu ninguém, mas quando se voltou, estava lá Amarelo. Algo espantado, cumprimentou-o, Amarelo respondeu. Já não o via à tanto tempo. Pois era. Foi, foi. Pois temos.

Ouviu um barulho atrás de si, mas não se voltou para ver o que era. Despediu-se, enquanto saía a correr por uma porta lateral. Rasgou o átrio de uma ponta à outra, lançou-se escadas abaixo em direcção às portas de vidro. Pareceu-lhe ter visto Vermelho com Laranja, mas não tinha tempo. Estava prestes a chegar à saída quando viu Azul. Olharam um para o outro por uns momentos, com a mesma expressão. De novo um barulho irrompeu. Agarrou Azul pelo braço enquanto se atirava pelas portas.

Estava sol na rotunda enquanto corria desamparado, empurrando quem se atravessasse à sua frente. Logo atrás, Azul tentava acompanhá-lo, agarrando com ainda mais força o braço que liderava. Viu ao fundo a porta branca e lançou-se na sua direcção. Antes de ser atropelado, teve apenas tempo de ouvir o chiar da borracha do autocarro contra o pavimento.

Acordou

domingo, 29 de setembro de 2013

saramago. outra vez

penso que sim, que é por nossa causa, outras vezes acho que estamos todos doidos, Um planeta que anda à volta duma estrela, a girar, a girar, ora dia, ora noite, ora frio, ora calor, e um espaço quase vazio onda há coisas gigantescas que não têm outro nome a não ser o que lhe damos, e um tempo que ninguém sabe verdadeiramente o que seja, isto tudo também tem de ser coisa de doidos.

(jangada de pedra)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

há muito que ela e a casa vazia esperavam pelo tocar da campainha que as fizesse ruir
há músicas que tocam pessoas. há sons que são lugares, há acordes curtos que chegam e sobram.

(um momento de silêncio)


colecionava borboletas mas a maior parte das vezes só apanhava escaravelhos

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

parece-me, por vezes, que escrevemos sempre pela pele da mesma personagem. cheio de histórias e vazio de muitas outras coisas

Where did you go bad?

KO!

Percebeu finalmente que tinha perdido, aceitou a derrota. Apercebeu-se do quão cansado estava, mas não ficou sentado. Levantou-se e andou, saiu, entrou noutro sítio, voltou a sair. Tinha a visão desfocada, não conseguia ver o que estava à sua frente e por mais que percorresse as paredes com o olhar, a mente voltava sempre ao mesmo vazio. Faltaram-lhe as forças, tinha a boca aberta, os ombros derrotados e a cabeça vergada. Ficou assim.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Apagou-lhe o cigarro na mão, entre o polegar e o indicador. Ele sentiu-se vivo. Agradeceu-lhe e perguntou-lhe se queria lume.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

terça-feira, 10 de setembro de 2013

smoking pot

“In my next life I want to live my life backwards. You start out dead and get that out of the way. Then you wake up in an old people’s home feeling better every day. You get kicked out for being too healthy, go collect your pension, and then when you start work, you get a gold watch and a party on your first day. You work for 40 years until you’re young enough to enjoy your retirement. You party, drink alcohol, and are generally promiscuous, then you are ready for high school. You then go to primary school, you become a kid, you play. You have no responsibilities, you become a baby until you are born. And then you spend your last 9 months floating in luxurious spa-like conditions with central heating and room service on tap, larger quarters every day and then Voila! You finish off as an orgasm!” ― Woody Allen

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

variedade de fins acabados em ar II

Adormeciam juntos
e odiavam-se ao acordar.
comeram muitos hamburgueres e outras carnes gordas
e decidiram hibernar

variedade de fins acabados em ar I

Adormeciam juntos
e odiavam-se ao acordar.
até que um em prol do amor
um deles, não voltou a acordar

pequenos detalhes XI

vivemos num mundo de muito poucas pessoas

pequenos detalhes X

vivemos num mundo com muito poucas pessoas

Time

It was the first time he killed a man and yet he remained strangely calm. He couldn't hear the clock on the wall ticking nor his own breathing sound, the cars outside made no noise. There was just silence, as if time itself had stopped. He looked at the dead man's face, frozen in a horrifying expression, and saw nothing. There was just the emptyness the man had left behind, slowly filling the room and making it hard for him to breathe.

Breathe, breathe in the air
Don't be afraid to care
Leave but don't leave me
Look around, choose your own ground
For long you live and high you fly
And smiles you'll give and tears you'll cry
And all your touch and all you see
Is all your life will ever be

Run rabbit run
Dig that hole, forget the sun
And when at last the work is done
Don't sit down, it's time to dig another one
For long you live and high you fly
But only if you ride the tide
And balanced on the biggest wave
You race towards an early grave

sábado, 7 de setembro de 2013

"O Som e a Fúria" - William Faulkner

JUNHO/2/1910

"Quando a sombra do caixilho aparecia nas cortinas era entre sete e oito horas da manhã. Encontrava-me então no tempo e ouvia o relógio. Era do avô e, ao dar-mo, meu pai disse: - Quentin, dou-te o mausoléu de toda a esperança e de todo o desejo. É mais do que penosamente provável que o uses para obter o reducto absurdum de toda a experiência humana, e que descubras que as tuas necessidades individuais não serão mais satisfeitas do que foram as suas ou as do seu pai. Dou-to não para que te lembres do tempo, mas para que o possas esquecer de vez em quando por momentos, e para evitar que gastes o fôlego a tentar conquistá-lo. Porque as batalhas nunca se ganham. Nem sequer são travadas. O campo de batalha só revela ao homem a sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e loucos." (pág. 75)